Esta é a candidatura que sabe que o estado a que o país chegou exige um sobressalto democrático e que lhe pretende dar corpo. É a candidatura “da esperança que não fica à espera”

Vê aqui a declaração de candidatura

Uma primeira palavra de sentido agradecimento para cada um de vós, pela vossa presença e pelo vosso entusiasmo com a nossa candidatura e para todos os que, de Norte a Sul, estão com ela e estão já a ser os seus porta-vozes.

As mensagens e os testemunhos de apoio que temos vindo a receber desde o dia em que a nossa candidatura foi anunciada demonstram que ela não só tem pés para andar, como tem cabeça, tronco e membros, e está de corpo inteiro, de cabeça levantada e de coração ao alto nesta importante batalha pela democracia que é a eleição presidencial de 2026.

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Não é por acaso que o primeiro ato público desta candidatura ocorre nesta bonita sala da Voz do Operário, nesta coletividade centenária de que sou sócio há mais de 30 anos, construída pelo movimento operário no século XIX, mantida em atividade apesar das perseguições policiais nos 48 anos da ditadura fascista, realidade viva e vibrante do movimento associativo da cidade de Lisboa neste século XXI, e que mantém orgulhosamente neste salão a nobre consigna “trabalhadores uni-vos”. 

A Voz do Operário é a nossa voz e esta candidatura será a voz dos anseios de todos os trabalhadores, a voz de todos os que criam a riqueza e não usufruem dela, a voz de todos os que nunca desistem de lutar pela sociedade livre, justa e solidária a que alude o artigo 1.º da Constituição da República.

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Portugal é hoje um País marcado por profundas desigualdades e injustiças.

Um País onde se avoluma o contraste entre uma larga maioria sujeita a baixos salários e pensões e um núcleo restrito de indivíduos que acumula cada vez mais riqueza.

Um País cada vez mais dependente e com défices estruturais que se consolidam apesar das muitas promessas.

Um País que, apesar das possibilidades abertas pela Revolução de Abril, tem sido sujeito a políticas que conduzem ao empobrecimento e à exploração, à degradação dos serviços públicos, ao desprezo das suas capacidades produtivas e a uma crescente dependência externa quando se exigia a afirmação plena da sua soberania e do projeto de desenvolvimento inscrito na Constituição.

O estado de degradação por que passa a democracia portuguesa é também motivo de enorme preocupação.

A direita controla hoje todos os órgãos de soberania.

Dispõe de uma ampla maioria na Assembleia da República que dá suporte a um Governo apostado em levar por diante uma agenda reacionária de afronta à Constituição, de ataque aos direitos dos trabalhadores, de privatização dos serviços públicos e do que resta do setor empresarial público, de degradação do Serviço Nacional de Saúde e da escola pública, de privatização e assalto aos recursos da Segurança Social, de desprezo pela cultura e pelo associativismo.

Dispõe de uma maioria na Assembleia da República apostada em rever a Constituição.

Dispõe de possibilidades sem precedentes para determinar a composição de outros órgãos do Estado.

Apoia-se no crescimento de uma extrema-direita fascizante, racista e xenófoba, intensamente promovida pelo poder económico e por amplos meios mediáticos, e cuja ação se baseia na demagogia, na mentira, na promoção do ódio contra os imigrantes, os pobres e os trabalhadores e no descrédito das instituições democráticas, para levar por diante uma agenda de retrocesso social.

Não se trata, como alguns dizem, de uma cedência do Governo PSD/CDS à agenda da extrema-direita. Trata-se sim, de usar o crescimento da extrema-direita como pretexto e base de apoio para levar por diante uma agenda reacionária que é a sua e que os portugueses já conhecem desde os tempos da troika, quando os atuais partidos da extrema-direita ainda faziam a sua gestação na barriga da mãe, a coligação PSD/CDS, que está hoje de novo a governar o País. 

E temos ainda um Presidente da República que, não só está comprometido com este estado de coisas como, no exercício das suas funções, teve muitas vezes um papel ativo, até determinante, para que a democracia portuguesa chegasse ao estado a que chegou.

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Neste quadro político e institucional, as eleições para Presidente da República assumem particular importância, seja quanto ao posicionamento do futuro Presidente em face da Constituição e dos valores de Abril que ela consagra, seja quanto ao posicionamento que assumirá em face da agenda de retrocesso social e democrático que está a ser promovida.

Os centros de decisão do capital começaram cedo a preparar as próximas eleições para Presidente da República, com a valorização e projeção de imagens ou conceitos como “autoridade” ou “poder forte”, visando dar lastro a ambições de candidaturas em que se aglutinam dinâmicas de pendor antidemocrático.

A direita controla hoje todos os órgãos de soberania. Apoia-se no crescimento de uma extrema-direita fascizante, racista e xenófoba. Neste quadro as eleições para Presidente da República assumem particular importância

Outras candidaturas que se perfilam, apresentadas como estando em disputa, com apelos ao consenso e à moderação feitos por quem quer que tudo fique na mesma, e que convergem no essencial com os interesses do grande poder económico, não dão garantias de um exercício das funções presidenciais de acordo com o que a Constituição exige, nem correspondem à necessidade de um firme posicionamento em defesa da democracia e no combate às forças e projetos reacionários.

Perante as candidaturas já anunciadas, muitos democratas lamentavam com razão a falta de uma candidatura que se identificasse sem reservas com os valores de Abril consagrados na Constituição, uma candidatura capaz de unir os democratas que não se conformam com o facto de a direita controlar todos os órgãos de soberania, uma candidatura capaz de unir os portugueses na luta por uma alternativa ao estado a que chegámos, uma candidatura que resgatasse a esperança e abrisse horizontes de futuro.

Essa candidatura faltava, mas já não falta. Aqui estamos. Aqui está essa candidatura.

Aqui estamos, aqui estou, para dizer que a defesa da democracia e da Constituição não admite desânimos nem desistências.

Contra a propaganda que tenta falaciosamente dar a entender que a próxima eleição presidencial está decidida à partida, como se o resultado estivesse pré-determinado, aqui estamos para afirmar com total clareza que a eleição não está decidida e que é o povo português que a vai decidir.

Aqui estamos para dizer que nunca desistimos de uma luta antes de a travar e que nunca faltámos nem faltaremos à chamada. 

Uma candidatura alternativa, capaz de mobilizar os democratas em defesa da democracia e da Constituição, não surge por magia, não aparece subitamente numa manhã de nevoeiro, não resulta de nenhuma discreta reserva da República.

Não começámos a intervir nas últimas semanas ou meses só a pensar em eleições presidenciais.

Estivemos cá sempre no combate por um País mais justo, pela igualdade e pela justiça social.

Esta candidatura só existe porque tem na sua base um património de luta, de resistência e de intervenção determinada e consequente. 

A alternativa é construída por quem luta por ela todos os dias, por quem não fica à espera, por quem sabe de experiência feita que quem só espera nunca alcança.

A nossa candidatura não resulta de uma soma de apoios de personalidades notáveis, a nossa candidatura nasce de quem luta todos os dias com os trabalhadores, com os reformados e pensionistas, com os utentes de serviços públicos, com a luta das mulheres pela igualdade e emancipação, com os jovens que lutam por um futuro que lhes é negado, mas que insistem em conquistar pela luta.

O que se impõe no atual contexto é a eleição de um Presidente da República que assuma e defenda critérios e valores democráticos, seja respeitador dos direitos, liberdades e garantias, se identifique com os interesses dos trabalhadores e do povo, e se comprometa com o dever de cumprir e fazer cumprir a Constituição.

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Uma candidatura a Presidente da República é por definição unipessoal. Trata-se de uma candidatura a um órgão unipessoal, mas esta não é a candidatura de um homem só. Esta candidatura corporiza um desígnio coletivo, uma ideia para o País, um caminho para o futuro.

Os centros de decisão do capital começaram cedo a preparar as próximas eleições para Presidente da República, com a valorização e projeção de imagens ou conceitos como “autoridade” ou “poder forte”

Um caminho que exige a afirmação da alternativa que se impõe face à situação insustentável a que chegámos, que exige coragem para a rutura e para abrir um rumo novo para o País assente nos valores de Abril e no cumprimento da Constituição.

Nós conhecemos os poderes do Presidente da República que constam da Constituição e consideramos que esses poderes não devem em caso algum ser ultrapassados por tentações de poder pessoal.

Sabemos que o Presidente da República não tem funções governativas e que o Programa de uma candidatura à Presidência da República não é um Programa de Governo, mas também sabemos que o Presidente da República, pela função constitucional que assume de cumprir e fazer cumprir a Constituição e pelos poderes concretos de que dispõe, não se pode limitar a pairar sobre os problemas, alheio às dificuldades concretas das pessoas e às ameaças que se colocam sobre Portugal e o mundo.

Uma candidatura a Presidente da República não pode resumir-se a produzir declarações generalistas e inócuas, sobretudo na situação que o País atravessa, porque isso significa que quer deixar tudo na mesma.

Esta candidatura não se esconde e toma posição clara sobre os principais problemas da sociedade portuguesa.

O Presidente da República não pode aceitar o desequilíbrio que existe entre o capital e o trabalho, a disparidade entre os lucros obscenos do grande capital e os baixos salários da esmagadora maioria dos trabalhadores, a negação de direitos fundamentais dos trabalhadores, a precariedade, o aumento da exploração traduzida em horários e ritmos de trabalho que não permitem conciliar a vida profissional com a vida familiar e que são a marca de décadas de políticas de direita que não respeitam os princípios inscritos na Constituição laboral. O Presidente da República não pode ignorar esta realidade.

O Presidente da República não pode aceitar que, no País a que preside, se empobreça a trabalhar e que em cada ano que passa aumentem as desigualdades, os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres sejam cada vez mais e mais pobres.

Outras candidaturas que se perfilam com apelos ao consenso e à moderação feitos por quem quer que tudo fique na mesma

O Presidente da República não pode admitir que uma das maiores conquistas de Abril que é o Serviço Nacional de Saúde seja destruído para beneficiar os negócios privados da doença e que haja crianças a nascer em ambulâncias por haver urgências fechadas e que haja pessoas a morrer por falta de assistência atempada.

O Presidente da República não pode aceitar que milhares de pessoas, desde logo com elevadas qualificações, cuja obtenção custou grandes sacrifícios às suas famílias por falta de um apoio social escolar condigno, tenham de emigrar por não encontrar em Portugal um posto de trabalho consentâneo com as suas aspirações.

O Presidente da República não pode admitir que na terceira década do século XXI haja falta de professores na escola pública quando há dez anos um ministro do governo PSD/CDS mandava os professores emigrar porque havia professores a mais e quando a marca de todos os governos tem sido a desvalorização da função docente.

O Presidente da República não se pode conformar com a realidade de só haver vagas para metade das crianças nas creches e na rede pública da educação pré-escolar e que a etapa do desenvolvimento das crianças dos zero aos três anos não tenha uma resposta pública. O investimento na primeira infância, numa boa rede pública de creches e no alargamento da educação pré-escolar a todas as crianças é um investimento de que o País precisa e que o desenvolvimento integral das nossas crianças reclama.

O Presidente da República não pode aceitar que os descontos que os trabalhadores fazem sobre os seus salários e que são a garantia das suas reformas no futuro, sejam jogados na roleta dos fundos de pensões privados, com base em falsas campanhas sobre uma suposta falência da Segurança Social.

Perante as candidaturas já anunciadas, muitos democratas lamentavam com razão a falta de uma candidatura que se identificasse sem reservas com os valores de Abril. Essa candidatura faltava, mas já não falta. Aqui estamos

O Presidente da República não pode admitir que não seja possível em Portugal encontrar uma habitação digna a preços que os salários dos portugueses consigam suportar, e que os sucessivos governos, em vez de lançarem políticas de promoção de habitação pública, limitar os preços das rendas, regular o alojamento turístico e intervir sobre os lucros da banca, insistam em manter as receitas que são responsáveis pelo descalabro atual.

O Presidente da República não pode pactuar com um sistema de Justiça a que a maioria dos cidadãos não tem acesso por falta de recursos económicos e onde os processos que envolvem os poderosos se arrastam sem fim à vista, criando um sentimento de impunidade da corrupção e da criminalidade económica e financeira e de descrédito das instituições judiciárias enquanto os julgamentos são feitos na praça pública e na comunicação social.

O Presidente da República não pode aceitar que aqueles que enchem a boca com o combate à corrupção se recusem a tocar, nem que seja ao de leve, nos mecanismos de promiscuidade entre cargos públicos e interesses privados como as “portas giratórias” entre cargos governativos e empresas privadas ou casos como o que envolve o atual Primeiro-Ministro.

O Presidente da República não pode permitir que no âmbito do combate à corrupção não se questione um processo verdadeiramente criminoso como o da privatização da ANA-Aeroportos e a sua venda à Vinci, ou as parcerias público-privadas, ou o esbulho da venda do Novo Banco e de milhares de milhões de euros do erário público em processos ocultos de arbitragem sempre lesivos dos interesses do Estado.

Uma candidatura a Presidente da República não pode resumir-se a produzir declarações generalistas e inócuas, sobretudo na situação que o País atravessa

O Presidente da República não pode concordar que, a outras empresas estratégicas que foram privatizadas, algumas das quais hoje já desmanteladas, se junte agora a TAP, que Portugal faça aquilo que outros não aceitam, que é alienar ao capital estrangeiro empresas e sectores estratégicos sem os quais não há nem soberania, nem desenvolvimento nacional.

O Presidente da República não pode aceitar que o País no seu todo, no litoral e no interior, no continente e nos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, não tenha oportunidades iguais, respostas públicas iguais, níveis de desenvolvimento iguais e que uma boa parte do mundo rural esteja hoje esquecido.

O Presidente da República não pode aceitar que se normalizem expressões de ódio contra os imigrantes que trabalham em Portugal, em condições precárias e em profissões duras e mal pagas, enquanto se estende uma passadeira vermelha aos estrangeiros ricos compradores de vistos gold.

Num quadro em que a imigração assume um papel cada vez mais relevante, incontornável, na sociedade e na economia nacional, o País precisa de uma imigração regulada. É preciso reforçar os meios de combate às organizações criminosas que se dedicam ao tráfico de seres humanos e é preciso encontrar mecanismos credíveis de regularização e de entrada e permanência de imigrantes em Portugal para trabalhar em condições legais e em igualdade de deveres e direitos com os trabalhadores nacionais, como aliás determina a Constituição.

O que não pode haver é uma política de imigração em que os estrangeiros ricos tenham direitos sem deveres e os estrangeiros pobres tenham deveres sem direitos.

Nas funções que assumi no âmbito da Assembleia da República, que foram muitas e diversas procurei sempre defender o projeto libertador de Abril o melhor que fui capaz.

O ódio da extrema-direita contra os imigrantes tem uma indisfarçável marca de classe. É um discurso contra os pobres, igual ao que é difundido contra os beneficiários de prestações sociais. É um discurso contra os trabalhadores, igual ao que é difundido quando se atacam os sindicatos ou o direito à greve. É um discurso contra a democracia, igual ao que é difundido contra todos os que lutam pela paz, pela igualdade, ou por transformações sociais de sentido progressista.

O Presidente da República não pode pactuar com este discurso e muito menos pode pactuar com uma atuação governativa em que conceções xenófobas e reacionárias sejam assumidas como políticas governamentais e traduzidas em atos legislativos violadores da Constituição e de direitos fundamentais nela consagrados.

O combate democrático ao ódio, à intolerância, à xenofobia, à homofobia, ao reacionarismo, numa palavra, ao fascismo, que tende a ser cada mais, não apenas normalizado, mas promovido, não se pode limitar ao discurso, ao confronto verbal ou a boas palavras.

É a candidatura de um comunista, com a confiança e o apoio dos seus camaradas, mas rejeita que a queiram limitar às fronteiras de uma afirmação partidária.

A defesa da democracia contra o fascismo faz-se com políticas que venham de encontro às justas aspirações das populações, que promovam a justiça social contra as iniquidades, que promovam os justos salários contra os lucros injustificados, que promovam as liberdades contra o autoritarismo, que promovam a educação pública contra a desinformação, que promovam a cultura contra a boçalidade, que promovam a ciência contra o obscurantismo.

O Presidente da República, pelas suas elevadas responsabilidades, tem de ser um agente ativo neste combate civilizacional pela liberdade e a democracia. 

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O Presidente da República, que é constitucionalmente o Comandante Supremo das Forças Armadas, assume uma especial responsabilidade no domínio da Defesa Nacional.

As nossas Forças Armadas devem ter os meios humanos e materiais adequados para cumprir com dignidade as funções que a Constituição lhes atribui.

O serviço nas Forças Armadas deve ser atrativo para os jovens portugueses e deve ser social e materialmente valorizado.

O investimento em equipamentos militares deve ter em conta as características do território nacional incluindo a vasta extensão marítima sob a nossa responsabilidade e deve ter em conta as nossas próprias necessidades. 

O que o Presidente da República não deve admitir é que o dinheiro que faz falta para investir no Serviço Nacional de Saúde, nas creches, na escola pública, nos salários das carreiras públicas, nas reformas e pensões, na cultura, ou em infraestruturas fundamentais ao desenvolvimento do País, seja desviado para alimentar o militarismo e a guerra, para satisfazer as exigências de Donald Trump de que os países europeus da NATO gastem a loucura de 5% do seu Produto Interno Bruto em armas e equipamentos militares.

O artigo 7.º da Constituição dispõe expressamente que Portugal se rege nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros povos para a emancipação e o progresso da humanidade e dispõe ainda que Portugal preconiza o desarmamento geral, simultâneo e controlado e a dissolução dos blocos político-militares.

O Presidente da República, que tem por incumbência “cumprir e fazer cumprir a Constituição” não pode esquecer que este artigo existe, está em vigor, e deve ser respeitado.

O Presidente da República, que é o representante máximo da República no plano internacional, não pode aceitar que o Estado Português se recuse a condenar o cruel genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestiniano, não tome medidas no plano diplomático para isolar o regime sionista e nem sequer reconheça o Estado da Palestina.

É a candidatura que denuncia o sistema capitalista como causa profunda das injustiças, das desigualdades e da exploração.

A cumplicidade do Estado Português com o genocídio do povo palestiniano às mãos do Estado de Israel é uma ignomínia e uma miséria moral que não será possível justificar às gerações futuras.

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O Presidente da República, ou um candidato a Presidente da República, não pode alhear-se destes problemas que afetam Portugal e o mundo, não pode aceitar a falta de respostas aos problemas dos trabalhadores, dos reformados, dos jovens, das pessoas concretas que enfrentam as dificuldades da vida, e perante este estado de coisas, ficar por umas banalidades tacticistas de apelo a supostos consensos, tecer loas à estabilidade governativa, enaltecer as virtudes do povo português e dos seus feitos desportivos quando existem, e colecionar selfies para a posteridade.

Não, o que os trabalhadores, o povo, a juventude, os democratas precisam é de um Presidente da República ao seu serviço e que seja a voz dos seus anseios, que assente a sua matriz programática no cumprimento dos direitos inscritos na Constituição: a igualdade e a justiça, a soberania e independência nacionais, a paz e a cooperação, a liberdade e a democracia.

É esse o propósito da nossa candidatura, que a torna distintiva das demais e insubstituível por qualquer outra.

Num tempo marcado pela tentativa de imposição do pessimismo e do medo, por manifestações de ódio e intolerância e pela descrença, esta é a candidatura que confia na capacidade do povo português para superar as dificuldades e que se propõe contribuir para a mobilização de vontades capaz de levar por diante a mudança que se impõe.

É a candidatura que constitui o espaço de convergência de todos os que se revêem na Constituição independentemente das suas opções políticas e partidárias.

Foi com uma enorme honra, pela confiança que me foi depositada, que aceitei a proposta do meu Partido para assumir a responsabilidade de ser candidato a Presidente da República. 

Não o faço por qualquer vaidade pessoal ou desejo de protagonismo. Faço-o com o mesmo sentido de missão com que tenho encarado a minha intervenção política ao longo da vida: ser útil à luta dos trabalhadores e do povo português pela sua emancipação.

Foi com esse espírito que assumi a militância nas juventudes comunistas motivado pela ação dos comunistas na resistência ao fascismo e pelo seu papel determinante na Revolução de Abril e nas suas conquistas. Foi com esse espírito, de ser útil à democracia e ao povo português, que tive a honra de representar o PCP na Assembleia da República durante mais de três décadas de entrega à causa pública, de dedicação à defesa dos direitos, dos interesses e das aspirações do nosso povo.

Nas funções que assumi no âmbito da Assembleia da República, que foram muitas e diversas, incluindo a vice-presidência durante 12 anos e até a fortuita presidência durante um dia e meio, procurei sempre defender o projeto libertador de Abril o melhor que fui capaz.

Ao longo destes anos, creio ter obtido a experiência, o conhecimento e as capacidades que me habilitam para exercer as funções de Presidente da República e procurei demonstrar, julgo que com algum sucesso que, no funcionamento da democracia, é possível conciliar a defesa intransigente das posições políticas de cada um e o combate leal a posições políticas diferentes com um sentido de equilíbrio e de abertura a consensos em que todos os democratas se possam rever e que contribua para o prestígio das instituições democráticas.

É esse o sentido desta minha, nossa candidatura. É a candidatura de um comunista, com a confiança e o apoio dos seus camaradas, mas rejeita que a queiram limitar às fronteiras de uma afirmação partidária.

Esta é a candidatura de todos os que não aceitam um caminho de degradação da democracia nem se resignam perante uma sociedade cada vez mais injusta. 

É a candidatura comprometida com a luta necessária dos tempos em que vivemos. A luta em que os interesses da larga maioria se confrontam com a minoria que se julga dona disto tudo.

É a candidatura que denuncia o sistema capitalista como causa profunda das injustiças, das desigualdades e da exploração.

É a candidatura que, rejeitando a resignação e o medo, intervirá pelo cumprimento da Constituição e dos valores de Abril nela consagrados, como caminho e projeto de desenvolvimento capaz de dar resposta aos problemas e aos anseios dos trabalhadores, do povo e do País.

É a candidatura que defende firmemente os direitos de todos os trabalhadores, os nacionais e os imigrantes, a justa repartição da riqueza, a melhoria dos serviços públicos, a promoção da ciência e da cultura, a preservação dos recursos naturais e ambientais e o desenvolvimento do País.

É a candidatura da defesa incansável dos direitos das mulheres, dos jovens e dos idosos, combatendo todas as discriminações em razão do género, da etnia, da origem, da sexualidade, das convicções políticas ou religiosas, da condição económica ou social, ou de qualquer outra natureza.

É a candidatura que não esquece a necessidade da valorização dos setores produtivos nacionais, da indústria, da agricultura e das pescas e do apoio às micro, pequenas e médias empresas que constituem o essencial do nosso tecido económico.

É a candidatura que está com os criadores culturais e com os trabalhadores das artes do espetáculo, na luta contra a precariedade, pela valorização das suas profissões e por um investimento decente do Estado na cultura. 

É a candidatura que não esquece a necessidade de valorização profissional de quem assegura serviços essenciais na saúde, na educação e ciência, na justiça, nos bombeiros e proteção civil, nas forças de segurança, nas Forças Armadas.

É a candidatura que não esquece a necessidade de apoiar as camadas sociais mais fragilizadas como as crianças, os idosos, os antigos combatentes e os cidadãos com deficiências.

É a candidatura que defende uma política desportiva nacional que privilegie o desporto para todos e apoie o associativismo popular que leva a cultura, o desporto e o recreio a todos os cantos do território nacional.

É a candidatura que não esquece os portugueses que emigraram para outros países e querem manter uma sólida relação de pertença à comunidade nacional. 

É a candidatura que luta pela Paz e a cooperação com outros Estados, exige o fim das guerras, o fim do genocídio do povo palestiniano às mãos de Israel e o reconhecimento do Estado da Palestina.

É a candidatura que quer garantir que são as instituições democráticas nacionais, legitimadas pelo voto popular, que tomam as decisões estruturantes para o povo e para o País, na economia, no papel do Estado, na justiça social, na política externa ou na defesa, sem subordinação do interesse nacional e coletivo aos interesses dos grupos económicos ou a poderes supranacionais, sem escrutínio ou controlo democrático.

É a candidatura da verdade, que recusa o caminho da mentira e da demagogia e assume o mais firme combate a conceções reacionárias, fascistas, xenófobas, racistas, homofóbicas e discriminatórias.

É a candidatura que constitui o espaço de convergência de todos os que se revêem na Constituição independentemente das suas opções políticas e partidárias.

É a candidatura da esperança para trabalhadores, democratas, patriotas, para homens, mulheres e jovens que lutam por um Portugal mais justo, soberano e desenvolvido.

É a candidatura que dá expressão à vida concreta das pessoas, da maioria dos portugueses, dos seus problemas, dificuldades e anseios e que estará sempre ao lado da luta de uma vida melhor para a nossa população.

É a candidatura que transporta uma ideia para Portugal: a de que é possível um País justo, culto e solidário.

É a candidatura que não se submete à arrogância dos grandes interesses, a única candidatura genuinamente independente do poder económico e dos seus representantes.

É a candidatura do povo, dos seus direitos, da sua legítima aspiração a uma vida melhor.

É a candidatura que sabe que o estado a que o País chegou exige um sobressalto democrático e que pretende dar corpo, dar voz, e dar expressão eleitoral a esse sobressalto.

É a candidatura “da esperança que não fica à espera”.

Com a força e o apoio de todos, vamos chegar longe nesta decisiva batalha política.

Conto convosco. Podem contar comigo.

Viva a Constituição de Abril.

Viva Portugal.